8.6.09

Nome aos bois

A sensação renovada, revigorada, revivida ganha um novo sentido. É como se a própria sensação carecesse de um nome mais adequado. Afinal é sensível a diferença das reações sentida em uma e outra ocasião. Por favor, isso não é nenhum desmerecimento quanto ao vivido anteriormente e até mesmo compartilhado. Mas alguém tem bola de cristal para sensações? E existiria esse questionamento se todo o resto não tivesse sido arduamente experimentado. É o enigma de viver as coisas como devem ser vividas. Vivendo-as, sentido-as. Os sabores, as cores, sons, cheiros e espiritualidades. Longe de mim propor uma escala de níveis ou graduações para sensações. Até porque a cada nova experiência toda a escala estaria sujeita a uma reformulação o que inevitavelmente geraria uma confusão danada. Então, talvez o melhor fosse dar nome aos bois, ou melhor, novos nomes aos sentimentos. Agrega-se assim o sobrenome da pessoa responsável pela descoberta de uma nova sensação, seja ela boa ou ruim. Por exemplo, amor-fulano, felicidade-ciclano, saudade-beltrano. Uma teoria nenhum um pouco universal, como nenhum sentimento deve ser...

13.2.09

Assim, assim...


Eu deixo coisas no ar, deixo coisas na mesa. Vou deixando para trás e para frente. Eu recorto fragmentos, bagunço e bagunço de novo. Eu leio de trás para frente de frente para trás e adiante. Separo e junto, corto e colo. Caleidoscópio de mosaico de palavras. O meu marrom pode ser verde e o roxo eu escolho dependendo do momento. Não tem pé, não tem cabeça, quiçá coração. Tem verso, (in)verso, (re)verso. É da boca para fora, mas de dentro para a boca. É de corpo, é de alma. Tem clichê de improviso, obviedades de surpresa. É preguiçoso e disposto. Sem compromisso, omisso e dissimulado. Não é para mim, nem para você. É ao Leo. É ao Léu.

?

Não tem explicação. Há momentos em que o desejo de escrever martela o meu cérebro. O curioso é que eu me desdobro para descobrir- sem sucesso - qual a idéia está por de trás. Na maioria das vezes acabo deixando passar, para não escrever “N” vezes o que preenche esse papel neste instante. Será que eu gostaria de dizer em palavras o que não consigo expressar de outras formas? Será a pura vontade de produzir? Podem ser as duas coisas. Mas no primeiro caso, também não consigo expressar pelas palavras. No segundo, bom este já está solucionado, sem juízo de resultado, claro. E nesse simples exercício de buscar o “entender” alguma coisa a princípio inexplicável, os pensamentos se confundem e ao menos o branco ganhou algumas letrinhas bestas com algum significado para mim.

19.1.09

O importante é compet-ir

Quem compete fere com pet será ferido
Quem compete recicla com pet será reciclado
Quem compete vende com pet shop será vendido
Quem compete trabalha com pet work será vestido
Quem compete está junto compete vai

Oumentir

Aconteceu
não virou manchete
nãomentiu
oumentiu
omitiu?
a verdade escondeu
É só peneirar
Platão avisou
Se nao quer machucar
boca de tolo fechou
o melhor é calar...

7.11.08

Quanta falta você me faz...

Você já viu um leque? Um leque nada mais é do que um objeto simples formado por diversas varetas internas e externas presas por uma "folha". Esta armação faz com que o objeto possa ser aberto e rapidamente tornar-se um abanador, sua principal função nos dias de hoje. Isso porque no passado as damas da nobreza utilizavam o leque como um elemento de sedução. Criou-se até, imaginem só, uma linguagem do leque. O leque fechado dizia: "cuidado, nos observam”... O leque aberto imóvel: "o terreno está livre”... O abano forte do leque:"amo-te muito"... E assim por diante.

O tempo passou e com o sinal da modernidade o leque foi quase extinto da sociedade. Nem mesmo na função de abanador ele é visto... Há, diga-se de passagem, muita gente a lamentar a ausência dos leques. Aliás, atualmente é mais comum ouvir a palavra "leque" quando se trata da expressão "leque de opções".

Outro sinal dos tempos e da modernidade é o fato de haver certa escassez de profissionais devidamente capacitados para certas profissões. O técnico de qualquer time brasileiro que o diga. Árbitros gerais de tênis e diretores de torneios hão de concordar também. E nestes casos a expressão “leque de opções” é mais do que bem-vinda. O que sabe também é que aqueles que não têm este tal leque de opção acabam como as chinesas dos séculos passados: passando mal de calor e com uma bela dor de cabeça. Há quem diga que no calor da cidade de Americana, a falta do leque causa estragos até maiores.

26.9.08

Projeto de reflexões

Em torneios de tênis quando escurece sempre surge a voz do árbitro ao microfone solicitando para alguém ligar a iluminação. A grande polêmica surgiu neste instante. Diferente do que estamos acostumados a ouvir o árbitro proclamou:
- Manutenção na escuta, por favor. Acenda os projetores.
Todas as pessoas da sala se entreolharam com a interrogação na testa: “Porque este cara não falou refletores, iluminação, lâmpada, qualquer coisa, mas projetores, não”. Em seguida, as mesmas pessoas da sala tiraram a interrogação da testa e lançaram a pergunta diretamente para o autor da frase.
Surpreso, para a nossa surpresa, ele se justificou e explicou.
O rapaz tinha, deve-se reconhecer, um conhecimento profundo em elétrica e fez questão de nos dar uma aula e agora sabemos. Para que todos também saibam, há o poste. No topo do poste há o projetor! Dentro do projetor há a lâmpada, o refletor e mais outro aparelho de nome impublicável. Aí é fácil. O projetor... projeta. O refletor... reflete.
Compreendemos e até certo ponto concordamos. Do ponto de vista teórico, sem problemas. Mas alguém já falou “ei, tá escuro, acendo os projetores”, ou “putz, os projetores da quadra queimaram” ou ainda, “droga, se tivesse projetor dava pra jogar até mais tarde”. Eu nunca. Na sala ninguém. Segundos depois, ficamos cientes que no clube ninguém nunca havia pronunciado a tal palavra com esse intuito.
Não preciso dizer que o número de piadas foi incomensurável. Apenas por hobby e para acender a discussão, parti de uma definição do dicionário que diz que o verbo acender pode ser usado como iluminar. Logo, o projetor projetava a luz no refletor, que refletia a luz, iluminava, ou acendia. Depois de quarenta minutos de discussão, de acende, apaga, liga, desliga, lua reflete e sol projeta lembrei da canção De Volta ao Samba de Chico Buarque e coloquei em alto e bom som para todos da sala:

“Pois quando de uma vez por todas
Eu me for
E o silêncio me abraçar
Você sambará sem mim
Acenda o refletor
Apure o tamborim
Aqui é o meu lugar
Eu vim”
Depois de ouvirmos a música, soltei:
- Olha, você pode estar coberto de razão, mas me desculpe é o Chico Buarque quem está dizendo.

Remediando

- Boa noite, Leonardo. Quais são os sintomas?
- Febre, dores no corpo e garganta fechada...
- Deixa-meeu examinar... Respira fundo... De novo... Mais uma vez... Agora respira normal... De novo... Poe a língua para fora e faz um “a”bem grande - eles não mudam o discurso.
- Aaa - contido
-Nossa!Já deu, já deu.
Os dois sentam.
- Bom, você vai tomar esse 10 dias, aquele 7 dias, o outro é para isso durante 10 dias e mais aquele até parar a febre.
- Tá certo, doutor.
Na farmácia.
- Preciso disso, desse, daquele e do outro.
- Prontinho. R$187,00, senhor.
Engoli ainda mais seco. A garganta doeu mesmo.
Em casa, a irmã do doente e fã de bulas, comenta:
- Seus remédios provocam diarréia. Está escrito na bula
Pensei comigo mesmo: “Então vou tomar um remédio para diarréia, mas ouvi dizer que muito remédio ataca o estômago. Resolvi ligar para o médico.
- Doutor, se eu tomar um remédio para dor de barriga e outro para dor de estômago, tudo bem?
- Bom, o problema é que esse para dor de estômago corta o efeito daqueles quatro outros remédios...
Conclusão: O que não tem remédio desprevenido está

3.9.08

15.7.08

A flor "assim"

Tem dias em que nos sentimos meio assim, não é? Por experiência pessoal, posso dizer que tudo começou há mais de um ano. Foi quando eu me senti muito “assim”. Cadê aquela força para levantar um quilo na academia? Não tem. E aquele mínimo esforço para pressionar uma tecla? Fugiu. Tão acostumado a colocar os outros para cima, de pouquinho em pouquinho e de repente estava lá no fundo e senti na pele. Tão fina quanto a própria derme é o limite da alegria e tristeza; sonho e frustração; vontade e desânimo. Todos os obstáculos em que sai pela tangente ao longo dos meus anos não haviam sido transpostos e me habitavam. Às vezes nem a luz no final do túnel somos capazes de ver. Mas sempre há alguém capaz de mostrar. E quem sabe pessoa só exista na sua vida para isso. Para num dado iluminar um caminho. Mesmo que essa “dádiva” faça das construções de dias compartilhados, escombros desavisados e sombrios. “E assim, seja lá como for vai ter fim a infinita aflição e o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão”. O chão remoído, cuidado e cultivado por um ano fez brotar a flor. Hoje ela sente sede apesar de se sentir meio “assim” neste dia.

26.4.08

Boa noite!

Goodnight backpackers é o nome de um albergue em Lisboa. O turno da madrugada lá começa às 24h e a resposável em zelar pelo hostel até as 8h30 do dia seguinte é uma ucraniana. Deve ter 1,70 m e pouco de altura, cabelos loiros estilo chanel e muita história para contar somada a vontade de contar.

Carrega uma carência inerente a solidão do horário. Desembestava a falar, mesmo quando eu mirava meu olhar fixo e concentrado no computador concentrado. Para não parecer mal-educado acabava por dar trela. Mas no fundo minha curiosidade nas histórias que ela ofereceria. Um dia me faz levantar para provar que sabia aonde era São Paulo e mostrar a sua cidade natal, no interior da Ucrânia.

Ela fala o português de Portugal, um pouco de russo e a língua de seu país. Nasceu na antiga URSS e foi morar em Portugal porque se casou com um português. Juntos, o casal tem um filho de 14 anos. Ela casou-se com 20 e pela aparência o filho deve ter vindo logo depois da união.

Já faz sete anos que ela vive na terra de Cabral. E por falar nele, nas nossas conversas de fim de noite, ela mostras suas descobertas. Diz que na vida fez tudo ao contrário. Resignida-se. Reconhece que deveria ter seguido a ordem 'natural', ou moral e ter estudado primeiro, feito faculdade e aí sim casado. Reclama que ganha pouco. Além do albergue, ela tem outro trabalho durante o dia. O marido é pedreiro. "Se fosse na Ucrânia seria engenheiro, aqui é pedreiro", diz ela rindo. Uma risada de não-alegria.

Numa outra madrugada ela sussurrou: "já tenho passagem comprada para Ucrânia". Eu disse apenas "ah é?" Foi o suficiente para ela me explicar todas opções de preços para fazer a viagem, porque havia escolhido tal companhia e orgulhosa revelou: "eu achei tudo isso sem saber mexer direito na internet".

Está preser a concluir a reforma de uma casa na Ucrânia e não esconde a ansiedade em voltar para seu país.

O desejo é de vencer. O desejo é de Victoria.

16.4.08

Em cadeia

Uma mala com três bolsos e uma mochila com duas divisões. Eu precisava de cinco cadeados. A primeira alternativa era que os cinco equipamentos fossem de código e que fosse um modelo possível de alterar a senha.

Na primeira tentativa em uma grande rede de supermercados fui informado de que no estabelecimento não eram vendidos o tal objeto. Nem de código alterável, nem de código fixo, tampouco o tradicional com a chavinha.

O segundo passo foi um hipermercado. Para a minha surpresa a resposta foi igual a da loja anterior

Não é possível que eu não encontre um cadeado...Como não vendem isso em supermercado? Tem lanterna, durex, lápis, maçã, e cadeado não...
Desisti de supermercados e após algumas indicações voltei minha busca para os depósitos de material de construção.

Opa. Logo de primeira duas opções de cadeado com código. Observo, abro, fecho escolho um e aí me lembro de perguntar a vendedora. - É possível alterar o código? Não havia tecnologia suficiente para isso. Vejam que interessante. Eu teria algumas horas para decorar cinco códigos de 4 dígitos cada, e lembrar onde em que posição de cada mala cada um dos objetos estaria, além das senhas de banco, internet banking, e-mail, email2, webmail do trabalho1, webmail do trabalho2, cartão de credito1, cartão de credito2, um outro cartão X....Mais uma desistência..

Mas o pessoal desta loja era solicito e me encaminhou para o local onde não haveria erro. Era 17h50 e até onde consta o horário comercial na capital paulista vai até as 18h. Cheguei e nada. Nem cadeado tinha.

Fui andando pela rua e achei um mercadinho fuleiro. Já estavam recolhendo os varais, vassouras, baldes e entrei antes da porta passar. A história tem um fecho ou desfecho feliz. Encontrei meus cadeados. De código .Alteráveis.

ps: Em tempo. Estamos em quatro cadeados. A TAP estourou um já.

2.4.08

Trânsito, Joca e Adoniran


Perdi três horas no trânsito. Uma hora e quarenta minutos no trajeto do trabalho até um local só para assinar e dar entrada no pedido de um documento. Depois, mais uma hora e vinte minutos só para voltar. O calor de 35º, a lentidão e todos os carros ao redor trouxeram uma irritação fora do comum.

Indignado, eu olhava através das outras janelas em busca de alguma explicação nos rostos alheios. A única válvula de escape era a buzina, na vã esperança de um milagre que este elemento do carro traz embutido consigo. Era só mais barulho, mais raiva. O humor do dia foi contaminado e não tinha mais volta.

Neste dia eu deixei de ganhar três horas de alegria, porque esqueci a receita ensinada por um amigo: “o jeito é ver as coisas como uma grande piada e dar risada”. Eu ainda precisaria retirar o documento na semana seguinte, uma ótima oportunidade de me vingar do trânsito.

O dia chegou e eu já estava preparado para a missão que teria pela frente. Carros, muitos carros, sinais bem fechados, amarelos para o vermelho (na minha vez de passar), esmolas, fechadas, buzinas. Caos.

De dentro do carro mantinha a determinação do bom humor e o sorriso no rosto. Aliás, sozinho posso ter incomodado muita gente. Gente como eu na outra semana que olhava para o carro ao lado em busca de uma explicação e em vez de encontrar alguém nervoso viu um maluco rindo das letras de Zeca Pagodinho e as próprias loucuras.

O resultado foi um impulso para um dia bom. Cheguei atrasado e falante no escritório. Brinquei com todos da recepção até chegar a minha sala. Não será sempre assim, claro, mas em vez de xingar o trânsito e outras coisas chatas vou tentar cada vez mais me blindar de alegria e brindar a vida.

Agora, a mea-culpa politicamente correta e uma porção de dúvidas.

Meu desconforto veio por conta de uma situação que fugiu da minha rotina e eu não soube lidar. Eu demoro 15 minutos da minha casa até o local de trabalho (de carro). E lá mesmo onde trabalho há pessoas que levam três horas para ir e mais três para voltar.

Eu não deveria poder reclamar...
Ou posso?
E devo?
Eu me adaptaria a uma rotina em que gastaria no mínimo seis horas no transporte casa-trabalho-casa?
Em casos de sobrevivência sim?
E nos outros casos?
Será que Joca estava certo quando Adoniran Barbosa cantou: “Deus dá o frio conforme o cobertô”?

20.3.08

Cópias


Eu só queria tirar umas cópias. Mas em troca ganhei umas risadas. Ou será que alguma outra pessoa faria isso? Pois é, ela fez.

5.2.08

Partido-alto

A brincadeira é séria no Cacique de Ramos. Debaixo da famosa tamarineira surgiu o Fundo de Quintal e o samba partido-alto se inventou, reiventou e ganhou outros espaços. De lá a música ecoa com o carimbo dos valores inerentes as palavras comunidade e família. Para entrar na quadra do Cacique de Ramos não é preciso pagar nada e se sai de lá valendo muito mais.

Na roda, uma menininha aparentando no máximo 7 anos te sua vez e nao decepcionou. Com mais de 10 marmanjos tocando, a garota não se intimidou e todos ouvimos "Sem Compromisso" de Chico Buarque, no Cacique de Ramos.

Aquela cena ficou na memória. Fiz um exercício para relembrar as minhas primeiras memórias musicais. Não foi difícil cantarolar mentalemnte alguns comoo se eu ainda fosse criança. A música fez parte da minha casa desde sempre.

Já mais velho, passei a invejar os compositores. Da admiração surge um desejo sadio de querer compor, ter esse dom. Surge também uma pequena frustração porque o ofício não é simples. Seria o mais orgulhoso dos compositores se um dia criasse minha letra. Um samba bem fajuta eu me daria por satisfeito. Misturaira uns versinhos banais, um refrão e um "laialaiá" e teria o meu primeiro e único partido-alto.

Pela definição (ou basta uma breve observação) partido-alto "é um estilo de samba em que os participantes inventam os versos na hora em que estão cantando. É um gênero de cantoria e, por vezes, é também uma forma de desafio"

Refletindo sobre isso respirei aliviado. Afinal de contas é isso comecei a compor há 25 anos. Vida de improviso, jogo de cintura, sonho, desafios, começo, meio, fim e aquelas partes que se repetem, repetem.

Toda vida não passa de um partido-alto.

Ei você aí...Não venha dizer que não gosta de samba, pois já entrou na roda também...


Ofício (Paulo Cesar Pinheiro)

A música me ama
Ela me deixa fazê-la
A música é uma estrela
Deitada na minha cama

Ele me chega sem jeito
Quase sem eu perceber
Quando dou conta e vou ver
Ela já entrou no meu peito

No que ela entra a alma sai
Fica o meu corpo sem vida
Volta depois comovida
E eu nunca soube onde vai

Meu olho dana a brilhar
Meu dedo corre o papel
E a voz repete o cordel
Que se derrama do olhar

Quando termino meu canto
Depois de o bem repetir
Sinto-lhe aos poucos partir
Quebrando enfim todo o encanto

Fico algum tempo perdido
Até me recuperar
Quase sem acreditar
Se tudo teve sentido

A música parte e eu desperto
Pro mundo cruel que aí está
Com medo de ela não voltar
Mas ela está sempre por perto

Nada que existe é mais forte
E eu quero aprender-lhe a medida
De como compõe minha vida
Que é para compor minha morte

30.1.08

Guarda-chuva


Dia chuvoso desanima. Principalmente para pessoas como eu, que por principio não utilizam o guarda-chuva. Considero uma tecnologia pessimista e sem espaço nas calçadas estreitas da cidade de São Paulo.

Os adeptos do guarda-chuva precisam entender que o objeto é grande. E que não é porque estão protegidos da chuva, que não precisam olhar para frente. Na minha modesta opinião, o cidadão guarda-chuvado tem o dever de desviar dos outros, e não o contrário.

A situação piora quando há encontros de transeuntes guarda-chuvado nas duas mãos da calçada. Nenhum dos dois sabe o real tamanho da unidade (pessoa + objeto), mas invariavelmente julgam menor do que é. Trombam. A má conservação do guarda-chuva também oferece perigo. Aqueles ‘braços’ metálicos escapam e podem ferir os inocentes. Sugestão: neste caso o pedestre sem guarda-chuva deve optar por andar na própria rua para evitar maiores acidentes.

Tudo isso quando a chuva cai de forma vertical. Mas há o vento e com ele uma chuva quase vertical. É claro que os guarda-chuvas acompanham esta angulação. Visualizem a massa caminhando com o guarda-chuva em forma de escudo.

Ainda sobre a questão do tamanho do guarda-chuva há outro importante comentário. Quando chove, as árvores – pasmem - ficam molhadas. Os cidadãos guarda-chuvados ignoram o fato de haver cidadãos não guarda-chuvados e num gesto de covardia permitem que o tal objeto atinja as copas das árvores. O resultado é uma precipitação ainda mais densa sobre os pedestres normais.

Depois de utilizado, o que é feito do guarda-chuva? As pessoas carregam o objeto até a porta do estabelecimento e aí? As portas viram um depósito de guarda-chuva molhado. A água escorre e inevitavelmente uma poça se forma na entrada dos lugares. E convenhamos, esteticamente não é bacana. E tem guarda-chuva, amarelo, verde limão, florido, xadrez, preto, branco, de bolinha e por aí vai. .Quem sabe o sr. Kassab não inclui um artigo sobre a questão dos guarda-chuvas na Lei Cidade Limpa.

Adoro quando de tão poderoso o vento faz a minha vingança e faz a parte de cima do guarda-chuva ficar invertida. Ainda mais interessante é briga para reverter a situação. Se objeto escapar e ganhar liberdade, então.

Talvez a chuva seja para ser sentida e não guardada, mas hoje eu confesso que só queria ter uma mísera capa de chuva...

15.1.08

Ladeira São José, nº 12

O Natal seguia adiante. A música, os festejos e a alegria também.

Um coro de primos, tios, tias, agregados entoava os versos de João de Barro e Pixinguinha.

"Meu coração, não sei por que
Bate feliz quando te vê.."

Eis que vão ao meio do 'salão' 179 anos. Ela 87. Ele 92.

"E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo"

Os passos são lentos, cuidadosos. As vozes acompanham.

"Mas mesmo assim
Foges de mim"

Continuam. Aproximam. Dançam.

"Ah se tu soubesses como sou tão carinhosa
E o muito, muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim"

E não importa o que foi passado. Passaram juntos, sempre juntos.

"Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração"

Então se abraçam.

"E só assim então serei feliz"

Sorriem para todos.

"Bem feliz"

Encerram com um beijo delicado, sob aplausos.

E de que importa se ela já nem se lembra e esquece. Ele também já não enxerga como antes. Mas e daí? A alma de tantos anos não esqueceu o que é ser jovem. O coração...Ah, o coração só precisa de um pouco de vida por perto para enxergar, lembrar, sentir e viver um pouco mais.

Com uma dança breve e improvisada mostram com inocência que nunca é tarde, ou melhor, sempre há tempo para a idade e a convivência, juntas, pregarem uma lição àqueles mais novos e apresentarem o verdadeiro espírito de Natal. Com muito carinho.
...

"Este momento aqui não é especial só porque estamos juntos. É a celebraço do nascimento de Cristo, não importa a religião. É um momento de amor e de paz e precisou de eu ir muito longe e de muito tempo para eu poder ver que a familia é a coisa mais importante que tem na vida. E a saúde de vó e vô, que estão aqui junto com a gente é o melhor presente de Natal que todo mundo que está aqui hoje poderia receber e dar. A gente é abençoado e este é o Natal mais abençoado que a gente já teve", Patrícia traduzia em palavras o que todos presentes deixavam escapar pelo cantinho do olho.

Meu coração...

12.12.07

Agradecimento

Depois de consumada a saída da minha colega de trabalho logo comecei a brincar sobre a possível suplente. Disse que participaria das entrevistas de seleção, pediria CVs com fotos entre outras baboseiras masculinas, ou machistas.

Foram três anos de uma convivência sensacional em que a palavra colega já não se adequa mais, afinal conselheiro psicológico e parceiro para 'conversas de menina' merecem um rótulo melhor.

Tudo começou na despretensiosa ida a um tal Clube em Guarulhos. Bem localizados que somos, demoraramos quase três horas para nos 'acharmos'. Foi rídiculo, aliás tenho que tomar cuidado com esta palavra, né? Mas dali em diante, a dupla dinâmica se formou.

Na volta de Campos do Jordão em um carro ainda sem equipamento sonoro, rolou cantoria da boa. No trabalho, nos juntamos para produzir mais e melhor. Mas também formamos parceria mais eficiente em momentos improdutivos. Temos até show marcado.

Poucas pessoas me levariam a São Caetano do Sul para um casamento. E São Bernardo do Campo, então? Ainda mais quando o mapa vem com saídas e placas inexistentes. Ela Vai ouvir essa para sempre. E ainda me chama de loser...

Divertimos o público na avenida Eng. Luis Carlos Berrini quando dirigimos um carro com dois volantes. Valeu Negão!

Já podemos economizar palavras para saber o que o outro está pensando. Mas esta economia não é forte dela, definitivamente...

Dela, já escondi por muitos dias o fim de um namoro, só para não decepcioná-la...

Pensando bem...não quero mais participar de entrevistas e seleção porcaria nenhuma. Acho que fiquei exigente demais.

Obrigado Fabi!

11.12.07

Homem Virtual

Assim é o homem virtual.
Começa, termina, recomeça.
Deixa a vida passar pelas janelas.
Encara cara a cara a pequena imagem de exibição.
Oferece sua ausência, desmoraliza qualquer status.
Desconfigura os sentimentos.
Desconecta-se facilmente.
Troca logins e usuários como se nada houvesse.
Bloqueia e desbloqueia ao léu
congela os dedos ao menor sinal de "fulano está escrevendo uma mensagem".
Premedita a próximas palavras.
Dá diretas e indiretas para tudo e todos no local destinado aos apelidos.

Mas o homem virtual também sofre sozinho. Ou será que ele se conforta pensando que algum Deus está vendo tudo lá de cima. Desde teclados umidecidos, mãos trêmulas, passeios por corredores, quenturas.

Um pensamento desvirtuado como esse não poderia ser registrado em espaço melhor que um Blog.

19.10.07

Com ou sem fusão


Separado, não!
Quero mistura
E no fervor que há fusão
Em alta temperatura
Separar sem dividir
Sem perder a compostura
Só para con-fundir

15.10.07

Isto é SAUDADE

- Um dia vocês vão sentir minha falta – desafiava a senhora aos 70, 75 e 80 anos
Tinha gente que duvidava. Tinha gente que duvida de teimoso. Gente que de teimoso duvidava para provocar a teimosia alheia para que no fundo não desistisse.
Sábia mulher. Ô mulher de verdade. A vida foi dura, duríssima com ela, que crédula em Deus chegou a questionar seu deus.
- Para que esta provação? Me leve logo! – pensava
Quando o assunto era alguma data comemorativa costumava dizer que “até lá” não estaria por aqui Tinha mesmo o tema da morte presente. A senhora concordaria com estas palavras. Mas havia gente esforçada em tornar aquela vida mais leve, o dia seguinte melhor, o coração mais saudável e a respiração forte.
E dizem que a cada “até lá” que ela deixava escapar o travesso Deus, a presenteava com uma multa a ser paga em vida. A moeda em jogo era vida mesmo.
- Não tem negociação – teimava Deus.
Um dia não teve “até lá”, nem “até logo” e tampouco “adeus”. Não teve a chance de se despedir de verdade.
Mas todos no fundo sabiam o porquê de não haver despedida: quem não foi e nunca irá sair dos corações e pensamentos não deve mesmo se despedir.
É assim que o neto dela se conformava sabendo que sempre sentirá a sua falta, ou melhor, a sua eterna e generosa presença. E esta Saudade maiúscula.

Gotas

Como estava árido lá fora!
De tão seco o céu ficou triste
E na dança das nuvens chorou
O meu olhar paralisou naquela hora
De tão impressionado resolveu chover

De onde?

Rogo por elucidações.
Sim, o que me agora é saber por que por vezes me sinto profundamente inspirado. Apercebo-me tomado por um espírito criativo. Mas, sem espanto, nada consigo produzir.
Miro poesias, mas me faltam rimas, versos, métrica.
Enfim, mal consigo explicar o que acontece.
É a contradição de se ter a certeza da aptidão de compor e simultaneamente a incapacidade para colocar em prática.
É a sensação de um potencial criativo que não se concretiza em arte. Mas eu não tenho esta pretensão e não me frustra esta impotência. Apenas não compreendo.
Sinto as idéias, mas não as identifico com precisão suficiente que me permitam converte-las em produção.
Inspiração ou Transpiração?
Não fosse esse ímpeto de desabafo, nem mesmo estas pobres linhas estariam manchadas...

**********************************************************************************
Transpiração
(Ney Matogrosso / Pedro Luis e a Parede)

A inspiração vem de onde
Pergunta pra mim alguém
Respondo talvez de longe
De avião, barco ou ponte
Vem com meu bem de Belém
Vem com você nesse trem
Nas entrelinhas de um livro
Da morte de um ser vivo
Das veias de um coração
Vem de um gesto preciso
Vem de um amor, vem do riso
Vem por alguma razão
Vem pelo sim, pelo não
Vem pelo mar gaivota
Vem pelos bichos da mata
Vem lá do céu, vem do chão
Vem da medida exata
Vem dentro da tua carta
Vem do Azerbaijão
Vem pela transpiração
A inspiração vem de onde, de onde
A inspiração vem de onde, de onde
Vem da tristeza, alegria
Do canto da cotovia
Vem do luar do sertão
Vem de uma noite fria
Vem olha só quem diria
Vem pelo raio e trovão
No beijo dessa paixão
A inspiração vem de onde, de onde
De onde
A inspiração vem de onde, de onde

10.10.07

12 de Outubro

Não olhe seu RG!
Vamos ser crianças
Aceite o desafio
Vamos conversar e distraídos mudar de assunto quando um bicho cantar
Ir ao zilógico
Ouvir o au-au do passarinho
Esquecer do amanhã
Comer de colher
Atirar o prato longe quando acabar a comida
Errar e levar bronca
Aprender
Olhar para cima
Listar todos os porquês
Surpreender-se com o novo
Ficar ansioso para o momento de abrir a lancheira
Tropeçar, machucar, chorar, levantar e recomeçar a brincadeira
Inventar
Destruir
Ter medo de pular na piscina
Descobrir o prazer das descobertas
Dar os primeiros chutes
Sonhar
Ser indiscreto e dedurar o outro na frente do outro
Querer ser gente grande e pensar no que vai ser quando crecer
Rabiscar
Sujar
Colorir
Brincar de brincar
Sorrir
E cansar
E de cansar desabar no colo dos pais
E lembrar que eles são os responsáveis deste adulto ser feliz por ter sido aquela criança
Acordar já na cama e começar tudo de novo

Memórias esquecidas


A gente TEM!
E esquece
Tem que fazer aquilo
E esquece
Tem que ajudar alguém
E esquece
Tem que se preocupar com os outros
E esquece
E tem que se preoucupar conosco também
Esquece!
Tem que fazer
E esquece
Tem que ser cem por cento
E esquece
Tem que ser feliz
E esquece
Tem que ser legal
E esquece
Tem que agradar
E esquece
Tem que ser forte
E esquece
Do viver
Decresce
Da saúde
Perece
Do desânimo
Padece
Da alegria
Fenece
O mau humor
Acontece
De paixão
Carece
Do tempo
Merece
Do estar
Aparece
Da cabeça
Enlouquece
Do Futuro
Tece
Da memória
Esquece
Tem que fazer aquilo
Acontece
Tem que se preocupar com os outros
Carece
E tem preoucupar conosco também
Enlouquece
Tem que ser cem por cento
Padece
Tem que ser legal
Fenece
Tem que fazer
Decresce
Tem que ser forte
Perece
Tem que ajudar alguém
Aparece
A gente "tem"
Merece
Tem que viver
Esquece

8.10.07

Preciso saber urgentemente por que é proibido pisar na grama


Preciso saber urgentemente por que é proibido pisar na grama


A Central de Atendimento ao Consumidor Blogaoleo.blogspot.com S/a recebeu centenas de respostas. Confira:

* Amassa e destrói as pobres. Para não deixar entrar em extinção e o ser humano deve entender que o mundo é de concreto.
* Não é porque mata a grama?!
* Porque elas morrem!
* É proibido pisar na grama! Pois as ordens devem ser compridas
* Por uma questão estética
* É proibido pisar na grama porque ela fica amassada, as folhas se quebram e fica aquela paisagem marrom, cheia de terra

1.10.07

Urbano

A República do Líbano é uma avenida da capital paulista movimentada desde muito cedo. Ela cerca o parque Ibirapuera e por isso suas calçadas são povadas por corredores de blusa laranja Nike 10, madames com seus respectivos cachorros... E olha só. Um deles, provavelmente num ato de desesperado ímpeto de liberdade se despreendeu da coleira e de sua Dona. Foi parar no canteiro central da avenida. Nos olhinhos do cão carros passando num zum-zum frenético de um lado e de outro. Ficou perdido e desestabilizado. Era uma patinha para frente. Duas para trás. Uma para trás, duas para frente. Havia desestido da fuga... Na calçada, a madade parecia mais desesperada que o bicho. Abaforida, ela gesticulava como um bicho, pedindo aos motoristas para que parassem.
Não sei o final da história. Vida de cão.

SãoPaulices

Sábado à tarde e o farol fecha. Em segundos, uma "malabarista do sinal vermelho" sorridente vem pedir uns trocados depois de sua perfomance. Mexi a cabeça de um lado para o outro. Tentei fazer uma expressão de "infelizmente hoje não vai dar".
Ela continuou animada e pediu para eu descer o vidro do carro.
Não hesitei em abrir, pois afinal de contas era uma criança.
- Que time você torce? - perguntou agitada.
- São Paulo!!!
Em seguida a minha resposta, tomei um susto com a reação da jovem garota. Um pulo e um grito de felicidade em conhecer mais um são-paulino.
- Aêêê!!! Toca aqui.
E bateu sua palma da mão na minha. E trocamos soquinhos em cumprimento.
Fechei a janela.

Tempo

A cidade pequena e a cidada grande.

Na primeira não se olha os ponteiros, na segunda (na terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo) é um olho no farol vermelho e outro no verde da rua transversal.

25.9.07

Travessia


Esta estória não seria diferente das tantas outras experimentadas ao longo de 10 dias na Chapada dos Veadeiros, se além de meu amigo Felipe não estive nosso Guia Ranuro. Ou seria Hanuro? Ranuru? Não preciso me preocupar com a escrita. Porque para Ranuro e os outros mebros da comunidade Quilombola Kalunga vale o que se diz e o que se ouve. É assim que a história deste POVO segue viva.

A meta era chegar na cachoeira de "água azul", a Santa Bárbara. De Cavalcante - cidade de 3 mil habitantes a 100 km de Tocantins - até lá foram 30 km de sob céu limpo e terra suja. Logo estamos no território Quilombola. O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga é o de maior área do Brasil, com cerca de 253 mil hectares,localizado no Nordeste do estado de Goiás. Cerca de 5 mil quilombolas vivem na região em mais de 30 comunidades.

A cachoeira recebe o nome de uma santa cristã comemorada na Igreja Católica Romana e na Igreja Ortodoxa, que foi mártir no século terceiro. Segundo a tal Wikipédia é considerada a protetora contra tempestades, raios e trovões. Antes de sermos apresentado a Ranuro, outro homem, o Sirilo, nos recebeu em sua casa, que funciona como um pequeno e simples centro turístico, ou uma espécie de sede da comunidade. Ele nos contou a tradição católica do grupo, apesar de admitir que há evangélicos. Fenômeno recente. Ironicamente, a televisão transmitia um culto evangélico.

O café foi servido. Ranuro quase recusou a nos ajudar, pois havia trabalhado na roça pela manhã e supunha que nos importaríamos por estar com as roupas sujas. Seguimos ao lado de nosso guia rumo à tão comentada queda d'água. Eram 4 km de trilha adentro. Muito sol. E o clima mais seco e desafiador de salivas que já senti.

Não demorou muito e ele nos perguntou algo assim:

- Quando vocês olham isso - apontando para o horizonte - o que vocês acham?

Nós tentamos demonstrar nosso fascínio e admiração pelo lugar. Comparamos a estética da cidade grande, os prédios e que não tínhamos aquela dimensão de horizonte no dia-a-dia. Não satisfeito, o guia provocou:

- E para morar?

Fomos sinceros e tentamos explicar que estamos acostumados com um ritmo de vida, com costumes e muitas outras coisas, que possivelmente dificultariam a mudança brusca.

Foi um breve e interessante debate das diferenças de mundos, valores, conhecimento, necessidades.

Ranuro salvo engano, está com 49 anos. Trabalhou por muito tempo na capital federal com "broca" em construção e também em uma fazenda. Quando Sentiu que o corpo já não acompanhava a velocidade exigida, decidiu: "Resolvi trabalhar só para mim mesmo". Voltou para sua comunidade, onde nasceu, e passou a cuidar da sua roça, aonde tem uma terra vermelha. "Nasce de tudo. Só não nasce o que a gente não planta", contou com orgulho. E é só isso que precisa para viver. E vive.

A relação com o dinheiro é pequena. Vive com o dinheiro do Bolsa família. Na realidade, usa as notas apenas para comprar remédio e alguma roupa. Aliás, Ranuro muitas vezes nem chega a sair do território quilombola para comprar novas vestimentas. Simplesmente - como simples é – encomenda para alguém que vá até lá para trazer alguma coisa para ele. Gosta mesmo dos cavalos - sonha em comprar um manga-larga, um dia - e da sua roça.

O ano é dividido entre o período de chuva e o de seca. O tempo de preparo da terra e o de cultivo. O resto é descanso. Cada um controla e divide o seu trabalho como considerar mais conveniente.

Durante mais de 1 hora de caminhada conversamos sobre a história daquele povo, a cultura, as festas, os bichos, comidas, vontades, clima. Enfim chegamos ao nosso destino: a cachoeira. Difícil descrever a beleza do local. E sem margem de erro, estava muito mais bonita porque fomos enriquecidos com belas histórias e experiências de um outro tipo de vida, que não estamos habituados a experimentar.

É inevitável se banhar na água gelada de desprendimentos e apegos.

E uma hora é hora de voltar. E os 4 km restantes e distantes, começavam a passar rápido... Após algum silêncio, Ranuro indagou sobre como funcionava esse negócio de férias. Contamos que tínhamos aqueles 15 dias de folga e mais outra quinzena 15 no final do ano.

O Guia ficou em silêncio. Parou. Pensou. E se indignou. Voltou o olhar para nós e com um certo sarcasmo afirmou com a firmeza de quem sabe o que diz:

- Rapaz, eu já to achando que é a roça é melhor mesmo que a cidade!

Foi risada.

"O importante não é a saída, nem a chegada, mas a travessia", Milton Nascimento

17.9.07

CERRADO DE LETRAS


ORA ERA DOR
CARRO DERA RECADO: DAR RÉ
CADÊ?
ORE!
DORAR!
DADO CER
ERRADO CÊ
CER RARO
CERRADO

*palavras formadas somente com as letras da palavra ‘cerrado’

15.8.07

Silêncios


Como explicar o silêncio? Quando é silêncio? É sempre ausência de som? Existe silêncio absoluto?

Eu, por exemplo, gosto de descasar em paz no meio do mato. O grito do grilo, o zunzum do pernilongo, o sapo sapeando e todos os outros insetos e bichos em uma sinfonia harmônica são sinônimo de silêncio para os meus sentidos.

E quem nunca teve um professor que no meio da mais alta algazarra – daquelas que quando um dos próprios elementos se ausenta do barulho, apenas observa o ruído e não é capaz de entender absolutamente nada - quebrava a situação com um ‘brado retumbante’. É a vez do silêncio que surge nos milésimos de segundos anteriores ao grito.

Tenho inveja de alguns seres dotados de uma capacidade de abstração incomum. Estes são capazes de produzir o que eu chamo aqui de silêncio mental. Cria-se uma barreira independentemente de quantos decibéis lutem para invadir este espaço.

E há também músicas que nos silenciam por dentro, outras que nos calam por fora. Por falar em música, Caetano Veloso diz que melhor que o silêncio é ouvir o mestre da Bossa Nova, João Gilberto.

O silêncio também se faz presente na linha tênue que liga á coragem ao medo. Aquela ausência de som gerador de expectativa de quem será o primeiro a vencê-la. Em alguns, causa o efeito e o impulso de ser o corajoso. Mas a mesma situação provoca em outros a motivação de instaurar o silêncio eterno.

Agora ouçam vocês. O silêncio, ele mesmo, pode ser também falador.

6.8.07

Paciente

Ser paciente é correr ao médico na pressa de deixar de sê-lo. Qualquer doença tende a ser agravada quando se adia o diagnóstico e o tratamento. Sem saber o que de fato se tem é um desafio conseguir realizar o procedimento adequado. Os resultados dos exames levam é claro algum tempo para sair. É aquele período da ansiedade, de caminhar sem chão e de criar expectativa para a cura ou até mesmo para o fim. Depois de muito estudo sobre o exame o médico chega ao veredicto.

O paciente com alívio, suspira e diz:
- Prefiro a certeza da dor a ficar com a angústia da indefinição.

E a partir daquele dia, o ex-paciente continuou apressado e consciente de qual era o caminho para a cura.

4.8.07

Jorge também é da banda


A melhor banda ‘cover’ dos Beatles do mundo é Argentina. O grupo esteve no Brasil há duas semanas em turnê comemorativa aos 40 anos de um dos mais verdadeiros álbuns dos Beatles, o Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band.

A casa estava repleta de nostalgia e também de curiosidade. Afinal e contas era a tal melhor banda beatle do mundo. O show teve momentos fantásticos, de fato. Mas o que chamou minha atenção foi Jorge. Um senhor apimentado. Era muita alegria para uma mesma pessoa. Pura euforia. A minha impressão, Jorge que me desculpe, é de que ele queria reviver o impossível. Projetar o passado no presente.

Era tanta alegria naqueles olhos que não me contive e fui falar com o homem embriagado de Beatles. A conversa foi breve, pois não queria atrapalhar de forma alguma o momento que era só dele. E naquela multidão, o momento era mesmo só dele. Jorge estava em alfa. “É a história de uma vida”, resumiu. Fã incondicional, foi presenteado pela filha com ingresso para ver os Beatles. Era possível perceber que havia John, Paul, Ringo e George, o pelo menos para o Jorge, com jota.

Empolgado ele me contava: “a cada música é um beijo numa menina quando eu tinha 17 anos”. Insisti em mais uma pergunta. E ele revelou qual era sua maior alegria: ter apostado numa banda que seria uma das mais ouvidas do mundo e que até os dias de hoje fazem sucesso.

Jorge destoava da audiência. Era barulho, silêncio, distorção, alucinação e contradição. Passado passando à frente. Rock com Tango. Jorge fazia mesmo parte da banda do Sargento Pimenta.

24.6.07

O ano em que gostei de Festa Junina

2007 marca na minha vida o primeiro ano em que quis comemorar a tradicional Festa Junina. Durante minha infância fugia dos meus pais que queriam me fantasiar da forma mais caprichada. Eu corria, e negava. Um bico enorme. Nem bigode, nem camisa xadrez. Aceitava apenas o chapéu. E foi ele que talvez tenha me trazido um trauma desta celebração. Em uma apresentação de escola que eu participava com uma má vontade das grandes, o objeto de palha caiu no meio do palquinho. Não lembro como foi, mas não esqueço.

Ontem eu conheci o João Baptista e sua história. Ele é o "São João" e nasceu no dia 24 de junho há muito tempo atrás. Independentemente do cunho religioso do qual não sou muito chegado, a filosofia de Baptista veio a calhar neste momento 'meu'. "Devemos mudar nossos rumos para encontrar a luz", dizia ele. A luz é representada pela fogueira de... São João, claro. O caminho para mudar nosso próprio caminho está na interiorização e, reflexão, pois para ele todas as respostas "estão e serão encontradas dentro de nós".

Descoberta o esta lição de que a sabedoria do aprendizado em nós mesmos é o suficiente para alterar nossos rumos é que fui feliz para a Festa Junina do Alê e da Ana. Não estava 100% feliz, pois não tinha achado um chapéu para complementar o visual que estava munido de bigode, barbicha e costeleta (naturais), camisa xadrez e calça rasgada. Passo para buscar meu amigo Pajé para e enfim irmos à festa. Como um milagre ele chega com o meu chapéu.

Um brinde sô!

22.6.07

Quem tudo quer ...




Bom Conselho
(Chico Buarque)

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade


Licença, Chico. Posso incluir 'quem tudo quer vai além'?

E o seu?

Venho por meio deste (post) responder a pergunta do dia da moça de moleza que pede colo para o moço.

- Diz ... quanto custa o seu sorriso?

E algumas respostas surgiram:

- Pague pra ver!
- Não custa nada e custa muito.
- Moça, não está à venda.
- Sorriso não tem preço
- Se eu falar você vai pagar?
- Mas que pergunta... Só rindo, mesmo.
- Depende do sorriso, né? São tantas modalidades.
- Meu sorriso é de graça
- Custa só riso
- O meu sorriso custa o seu!

Esta pergunta é tão vasta, complexa e bonita. Se eu fosse o Ministro do Riso obrigaria todos estabelecimentos a colocar “Diz... quanto custa o seu sorriso?” logo abaixo da frase “Sorria você está sendo filmado”.

19.6.07

Como

Eu já sabia que isto logo aconteceria e você talvez ache que é precipitado. Mas chegou a hora de contar. Não é nada além do que um simples segredo ou uma maneira de gastar aquela linha branca dando e desatando nós.

Aonde você quer chegar com isto? Mas que público mais cheio de pressa. Prefere a curiosidade entalada a sentar-se de maneira confortável na cadeira e aguardar. Eu concordo que poderia haver melhores razões para isto. Que fique só entre nós.

Desde quando é fácil contar segredos – desde que não seja o dos outros. Uma boa dica sobre este meu é que muita gente já viu por aí. Passou por algumas das mais simples redações e até mesmo prova de processo seletivo. Estava lá e está aqui também. Não é bom usar este recurso precioso a todo o momento, mas de vez em quando é preciso. E quem nunca fez isto ao menos uma vez na vida? Falo de nós.

Agora que os nós completaram as linhas não há mais segredo entre nós.


**********************************************************************************

Está exemplificado no texto acima. A melhor coisa a se fazer quando é preciso falar ou escrever é isso. Falar sobre o próprio assunto. Ou melhor, comentar a falta dele. O apelo para este recurso não é dos mais admiráveis, mas nesta escassez de dribles em que vivemos é válido, claro.

Hoje, na busca para encontrar uma razão para falar do falar e do escrever do escrever, percebi uma coisa interessante nessa enrolação – talvez sem o tom pejorativo que a palavra enrolação carregue. Eu tenho um apreço incomensurável pelo "como". Muito maior do que pelo “porque”, “quem”, “quando”, “onde” ou pelo “que”. Tem razão quem disser que sem “porque”, “quem”, “quando”, “onde” ou ou “que” não tem o “como”. E o meu projeto de teoria pode cair por terra e perder o sentido.

Como nasceu esta idéia de ter esta idéia? E como outra idéia evolui de um ponto até o outro? Os processos, as transformações ganham para mim um peso e uma relevância superior ao que se viu na partida ou na chegada. E sem perceber logo quando começo... acabo num ‘como’ profundo sem saber como.

13.6.07

Paredes, anteparos, horizontes

Uma questão de olhar. Olhar para dentro, para fora, ao longe, o olhar dos outros. Tudo está no olhar. Na vida das cidades cada vez mais urbanas, a verticalização surge diante de nossos olhos. Cria problemas climáticos e faz o horizonte difícil. Quantos metros livres há em nossa frente? Sem uma parede. Sem um prédio. Sem uma tela. Sem um obstáculo físico.

Tão nocivos quanto os obstáculos físicos são os não físicos, meu amigo. Aquela vontade de agradar à tudo e à todos. Há um mundo de possibilidades e é impossível agarrar todas de uma vez. E o pior é quando acreditamos piamente que basta dar atenção a todas as alternativas que o resultado será a paz. Ai que nos enganamos. Aquele sentimento reprimido, a pressão de ter que agir, o medo e a obediência ficam invisíveis no turbilhão do cotidiano. Com o corpo atado nem o melhor e mais forte corredor sairá do lugar.

Mas esses obstáculos são invisíveis, ou imperceptíveis quando nossa essência, aquilo que realmente somos não vem à tona. E é por isso que precisamos desvendá-los. Saber os quais, quem, porquês e comos do que nos diz respeito. Se percebidos, o melhor remédio talvez seja a demolição apenas para desobstruir a passagem. Ou então aprende-se como desviar. Mas desviar o olhar nem sempre é a solução. É vital ter o olhar livre quando for visualizar o seu horizonte.

(...Por onde vou guiar
O olhar que não enxerga mais
Dá-me luz, ó Deus do tempo
Dá-me luz, ó Deus do tempo
Nesse momento menor
Pr'eu saber seu redor
A gente quer ver
O Horizonte distante...)


Com os entraves pela frente o horizonte fica nebuloso e não há espaço para elaborar planos. E planejar é traçar as metas, estratégias, agir e chegar ou não ao um resultado final, que nem sempre é o mais importante. Todo cuidado é pouco porque no planejamento desenfreado sem ação ‘o horizonte perde o infinito’ e nascem outros obstáculos: decepção, frustração. Trazer o horizonte para perto, para a realização, é tão saudável como o perigo de planejar o inviável – não estou falando dos sonhos.

Muitas vezes os obstáculos estão ali mesmo, dados na nossa realidade. Brutos demais para o ser quando fragilizado ter forças para derrubar. E tão importante como desobstruir é criar anteparos. Não é egoísmo pensar na própria proteção e ter atitude de afastar os raios que nos atingem e fazem o olhar se perder do foco principal, que é nossa essência, planos e horizonte. E como é prazeroso observar que criamos resistência e que o que incomodava não atinge mais, bate e volta. O olhar agora é para dentro.

Em alguns momentos os anteparos são provisórios. Quem nunca viu uma simples operação tapa-buraco nas ruas. Cerca-se o local a receber o serviço, que só é definitivamente liberado quando enfim for possível trafegar com segurança. Carregar tijolos, argamassa e cimento é trabalho dos mais pesados e não é para qualquer um mesmo. Identificar ‘os quereres’ então, nem se fale. Haja disposição e boa vontade para este desafio já lançado.

(...Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim....”)


Umas das poucas certezas que temos é a escolha. Com convicção é melhor ainda. Diga sim, se sim. Não, se não. Depois, se depois. Não quero, se não quero. Ser, se é. "A sorte da gente é a gente que faz". Estar sereno é estar de bem com a vida. E não há no mundo expressão maior de paz interior que um sorrido bem dado, não é? E o sorriso depende sim de muitas coisas, mas sem os músculos, a cabeça e alma tranqüilos fica impossível. E por onde ele anda? Que tal um pouco mais de respeito ao compasso descompassado do seu coração. Ah... Não se esqueça! O coração é um músculo.

Olhar atento para fora e para dentro, meu amigo. Há que se zelar do ‘o universo ao meu redor’ e do’ infinito particular’. Ouvir um passarinho e não se sentir só. Ser porta-bandeira de si.


Esquadros
Adriana Calcanhotto

eu ando pelo mundo prestando atenção
em cores que eu não sei o nome
cores de almodóvar
cores de frida kahlo, cores
passeio pelo escuro
eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
e como uma segunda pele, um calo, uma casca,
uma cápsula protetora
eu quero chegar antes
pra sinalizar o estar de cada coisa
filtrar seus graus
eu ando pelo mundo divertindo gente
chorando ao telefone
e vendo doer a fome nos meninos que têm fome

pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
eu vejo tudo enquadrado
remoto controle

eu ando pelo mundo
e os automóveis correm para quê?
as crianças correm para onde?
transito entre dois lados de um lado
eu gosto de opostos
exponho o meu modo, me mostro
eu canto pra quem?

pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
eu vejo tudo enquadrado
remoto controle

eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
minha alegria, meu cansaço?
meu amor cadê você?
eu acordei
não tem ninguém ao lado

pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
eu vejo tudo enquadrado
remoto controle

12.6.07

Contrata-se!

Se eu pudesse incluir uma profissão no ministério do trabalho... Se eu pudesse, o anúncio de emprego seria assim:

- Formado há no mínimo 3 (três) anos e com experiência na ramo de elogios
- Pós-Graduação em paciência e reconhecimento são atributos desejáveis
- Capacidade de identificar aspectos positivos na imensidão de negativos
- Saber trabalhar em equilíbrio com os defeitos e valorizar as qualidades
- Ter disponibilidade de refletir com responsabilidade sobre as atitudes tomadas
- Domínio da percepção para o que se mistura na superfície e se esconde na profundidade
- Habilidade para improvisar e se comunicar no idioma do outro
- Saber enxergar, ouvir, falar e calar...”


Este post era para ser só isso e ser compreendido. Mas ouvi uma crítica. A palavra crítica sempre vem com uma conotação negativa, ao menos para mim, e esta veio exatamente da forma com que o anúncio solicita. Uma crítica sincera, ponderada e destacando que por mais confusa que esteja a idéia ela tem algo de bom. E é só por isso que estou aqui novamente, me retratando e numa tentativa, talvez inútil, de explicar o que sai do jeito que saiu. Falar mal é muito mais fácil, comum. Elogiar dá trabalho. É preciso um esforço de pesquisa minucioso.

Quem sabe fosse a hora de colocar outras cores de volta no mundo e deixar o cinza para lá um pouco. Só para diminuir esta desvantagem. Se for posível equilibrar, claro. Não quero dizer que é preciso falar bem daquilo que é ruim, mas sim que é no exercício de achar a qualidade que se encontra o defeito e vice-versa. Dando sequência a série de obviedades - e como é importante falar o óbvio - nada é perfeito, assim como nada é imperfeito. Até porque as coisas são mutáveis...

4.6.07

Imaginando

- Hoje o dia foi complicado...
- Imagino...

Congela a cena, por favor.

Farei jus a alcunha de "crica". Eu sei que o "imagino" acima é retórico, mas... Mas o que? Então, mas ninguém imagina nada. Por mais que alguém tenha passado pelas mesmas situações não está autorizada a imaginar o que outrém passa, ou sente. Simplesmente porque a relatividade da sensação não permite. Acho que era isso...

Receita Terapêutica

- Músicas de Cantar
- Pessoas de Cantar
- Volume de Cantar
- Microfone Virtual de Cantar
- Espírito de Cantar
- Carro de Cantar
- Ruas de Cantar

Ps: Com esta receita lúdica, alguns conceitos de sua vida podem mudar. O ecletismo ganha lugar e proporcionalmente os preconceitos musicais vão perdendo o seu espaço. É fechar os ouvidos para os nossos conceitos prévios - e dos outros também - e permitir sentir o momento da música, imprimindo na canção outros significados.

Depois de seguir a receita, descobri que algumas músicas como "Alecrim, Alecrim dourado que nasceu no campo e não foi semeado" cantada na voz de uma criança sem fôlego passam a ser mais do que aquilo que se ouviria. É a mesma música que chegará da próxima vez com um valor agregado - para usar um termo do mercado.

Aos primeiros acordes da velha canção, ela reverberará diferente dentro de você. E como são infinitas as possibilidades... Pode remeter a cheiro, alguém, algo, nada, dor, paz, amor, fé, carinho, pretérito, futuro, futuro do presente ou do passado, paisagem, paisagem imaginária, coreografia séria, dança ridícula, sol, chuva, calor, frio, praia, vazio, deserto, campo, eu, tu, nós, vós, eles, junto, separado, viagem, saudade, confraternização, espírito.

Ok, você não vai gostar de todas as músicas e gêneros. E tampouco precisa, viu. O discurso é politicamente correto mesmo. Mas admito que vale a pena tentar. A surpresa é provável. E se me permitir alertar, quando ela vier diga não a repressão. Deixe vir. E mais um alerta. Depois não adianta reclamar, esconder, disfarçar. Porque virá de dentro, incosciente, sem aviso prévio. E aí vai chegar o dia em que você vai assobiando, ou 'pior', cantando um refrão. Bom, se isso não acontecer, tente novamente, pois algum passo da receita pode não ter dado certo para você.

31.5.07

Maravilhas!


Aproveitando o embalo da escolha das maravilhas do mundo este Blog oferece uma votação alternativa. Não sem antes pedir benção ao maravilhoso Cristo Redentor.

a-) Mulher Maravilha
b-) Jorge Maravilha
c-) Fio Maravilha
d-) Elke Maravilha
e-) Que Maravilha
f-) Maravilha (ex-goleira da seleção feminina de futebol)
g-) Mara Maravilha
h-) Darcy Maravilha (compositor portelense)
i-) Alice no País das Maravilhas
j-) Dadá Maravilha

Você conhece outras maravilhas? Colabore!

30.5.07

O milagre da vida

A Aline do escritório onde trabalho entregou a carta de licença maternidade na última semana. Ela já está barrigudona - é o oitavo mês de gravidez. A previsão é que o pimpolho apareça lá pelo final de junho. Fiquei imaginando o que é ver sair uma vida de dentro de si. Uma sensação, que por razões óbvias, jamais terei. Não estou com inveja. Mas o que será que passa pela cabeça? Pelos olhos? E o coração, então?

Aí passo por aqui. Blogo um texto ali, outro acolá. E me dano a pensar... E a pergunta que me persegue talvez seja aquela que a Aline se fará daqui uns dias: - Como saiu de dentro de mim? E aí vejo que saem coisas que ficaram anos sendo gestadas e de repente... Puft! E sai... Não serei ingênuo. É fato que tem muita coisa prematura saindo por ai. Mas nada que uma boa incubadora não resolva esta maturação. Ah... às vezes até dói.

Outras vezes parece que algumas coisas só servem para serem gestadas. Parir jamais! E antes que me questionem... Aqui a Lei do Aborto é permitada, sim senhor. Quem é que carregou o tempo todo? Sorriu, sofreu, esqueceu, dormiu, alimentou, desenvolveu, reprimiu, expressou. E tem chute também! E quando tentam ouvir alguma coisa? Ou ainda acordam abruptamente? Uma aflição!

E são nesses pequenos partos que vamos nascendo para nós e para o mundo. E eu, que nunca vou ver um filho sair de mim, me pego com um olhar carregado de zelo, orgulho. Confesso que às vezes não sai como a gente imaginou. Mas é meu. E então continuo cuidando e protegendo o que não tem explicação. Bem maternal, mesmo.

É o milagre da vida!


"... Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão..."
(Cio da Terra - Chico Buarque e Milton Nascimento)

"... E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão..."
(Sonho Impossível - Chico Buarque)

29.5.07

Teoria dos Conjuntos


* Teoria dos conjuntos é a teoria matemática que trata das propriedades dos conjuntos. Ela tem sua origem nos trabalhos do matemático russo Georg Cantor (1845–1918), e se baseia na idéia de definir conjunto como uma noção primitiva. Também chamada de teoria ingênua ou intuitiva devido à descoberta de várias antinomias (ou paradoxos) relacionadas à definição de conjunto. (Wikipédia)


* Aqui vai um exemplo da Teoria dos Conjuntos.
Comecemos com os conjuntos ‘A’ e ‘B’, ou talvez exista o ‘C’, quiçá o ‘D’ também... O que se sabe é que o conjunto B julgava pertencer a A, mas não um julgar matemático. ‘A’ sabia da intersecção, mas já não acreditava nessa história de pertence e não pertence.

Existe o conjunto universo. Este sim, aonde todos os outros residem. E cada um destes outros podem e vão fazer intersecções com os outros, oras. Mas o tal do conjunto ‘B’, que parece não entender muito de matemática, não quer ‘C’, ‘D’, ‘E,’ ‘F’... ‘Y’ fazendo parte de ‘A’, ao menos não ali, onde todos elementos se misturam.

E ainda sofre o conjunto ‘B’. Tonto. Ele tenta entender porque invadem aquele 'lugarzinho' – ele deixa de perceber que o que vale é aquele seu espaço só seu em comunhão com 'A'. E que é este espaço rico que deve ser cultivado.

Não façam um julgamento cruel de ‘B’. Porque no fundo ele sabe de tudo isso. E ele briga com os elementos pertencentes ao seu conjunto. Grita para que eles se comportem, que não se exaltem e tampouco se entreguem. Que se acalmem, que há de passar. E eles teimam em escapar. E escapam. Por mais que 'B' queira ficar contido. Um pouco injusto e vazio, o conjunto 'B' faz se esquecer que ele pode ser 'A'...

* "... Hoje eu vim, minha nega, sem saber nada da vida
Querendo aprender contigo a forma de se viver
As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender..."
(Coisas do mundo, minha nega – Paulinho da Viola)

27.5.07

BEM-VINDO...

* SEGURANÇA COM GUARITA BLINDADA
* CLAUSURA NOS ACESSOS DE ENTRADA
* SEGURANÇA PERIMETRAL
* CIRCUITO FECHADO DE TV DIGITAL
* MONITORAMENTO REMOTO DE ALARME


... LAR DOCE LAR

24.5.07

Blogarítimos

Blogarítimos

Razão vezes emoção dividida por somatória de expectativa e frustração mais idealização menos paixão sobre desenganos mais dores elevado a alegria mais desejo subtraído por destino vezes ambição menos ilusão mais felicidade = vida

* Inspirado em Solução de Vida (Molejo Dialético) - Paulinho da Viola e Ferreira Gullar

* Corrupção em todas esferas da sociedade
* Falta de respeito no trânsito
* Desvalorização salarial
* Injustiças sociais
* Assaltos


Tudo isso gera uma sensação de impotência em você? Não perca tempo! Tome as pílulas da felicidade.

21.5.07

Mosaico Globalizante


O chefe da folia pelo telefone manda me avisar que com alegria não se questione para se brincar. É deixar mágoas pra trás, oh rapaz. Fica triste se és capaz, e verás. Mas isso foi há muito tempo atrás, quando Don-Don ainda jogava no Andaraí. Naquela época nossa vida era mais simples de viver, não tinha tanto miserê, nem tinha tanto ti-ti-ti, no tempo que Don-Don jogava do Andaraí. Era tudo diferente: propaganda era reclame e ambulância era dona assistência; mancada era um baita vexame e pornografia era só saliência; sutiã chamava porta-seio; revista pequena, gibi. No tempo que Don-Don jogava no Andaraí, rock se chamava fox e tiete era moça fanática. O que hoje se diz xerox chamava-se então de cópia fotostática; motorista era sempre chaufeur; cachaça era Parati...no tempo que Don-Don jogava no Andaraí.

O tempo passou e hoje em dia o Sol não causa mais espanto. Miséria é miséria em qualquer canto. Riquezas são diferentes. Cores, raças, castas, crenças...riquezas são diferenças. Índio, mulato, preto, branco, filhos, amigos, amantes, parentes, fracos, doentes e aflitos. Em qualquer canto: miséria. Riquezas são misérias. Bom dia passageiro é o que lhes deseja, a miséria S/A que acabou de falar.

A miséria s/a fala para todos. Diz que a cidade não pára, a cidade só cresce. Enquanto o de cima sobe e o debaixo desce. Fala também que as grades do condomínio são pra trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você quem está nessa prisão. O resto que ela fala eu já sei. É que eu acordo p’rá trabalhar, eu durmo p’rá trabalhar, eu corro p’rá trabalhar.Eu não tenho o tempo de ter, o tempo livre de ser, de nada ter que fazer.Eu não vejo além da fumaça que passa e polui o ar.

A miséria S/A só não fala o que querermos saber. E o que queremos saber? Nós queremos saber o que vão fazer com as novas invenções. Queremos notícia mais séria sobre a descoberta da antimatéria e suas implicações na emancipação do homem das grandes populações. Homens pobres das cidades das estepes e dos sertões. Queremos saber quando vamos ter raio laser mais barato. Queremos viver confiantes no futuro por isso se faz necessário prever qual itinerário da ilusão. A ilusão do poder, pois se foi permitido ao homem tantas coisas conhecer é melhor que saibam o que pode acontecer.

O que pode acontecer com os milhares de megabytes abatendo a solidão. Com a graça de Bill Gates, salve a globalização! Se o homem já foi a lua, vai pegar o sol com a mão. Basta comprar um PC e aprender o 'abc' da informatização. Não quero saber de mais nada. Só quero entrar na rede pra contactar, os lares do Nepal, os bares do Gabão....que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular...que lá na praça XI tem um videopôquer para se jogar...


Lista das músicas:

Pelo Telefone
Tempo de Don Don
Miséria
Miséria S/A
A Cidade
Minha Alma (A paz que eu não quero)
Capitão de Indústria
Queremos Saber
Kid Vinil
Pela Internet