24.6.07

O ano em que gostei de Festa Junina

2007 marca na minha vida o primeiro ano em que quis comemorar a tradicional Festa Junina. Durante minha infância fugia dos meus pais que queriam me fantasiar da forma mais caprichada. Eu corria, e negava. Um bico enorme. Nem bigode, nem camisa xadrez. Aceitava apenas o chapéu. E foi ele que talvez tenha me trazido um trauma desta celebração. Em uma apresentação de escola que eu participava com uma má vontade das grandes, o objeto de palha caiu no meio do palquinho. Não lembro como foi, mas não esqueço.

Ontem eu conheci o João Baptista e sua história. Ele é o "São João" e nasceu no dia 24 de junho há muito tempo atrás. Independentemente do cunho religioso do qual não sou muito chegado, a filosofia de Baptista veio a calhar neste momento 'meu'. "Devemos mudar nossos rumos para encontrar a luz", dizia ele. A luz é representada pela fogueira de... São João, claro. O caminho para mudar nosso próprio caminho está na interiorização e, reflexão, pois para ele todas as respostas "estão e serão encontradas dentro de nós".

Descoberta o esta lição de que a sabedoria do aprendizado em nós mesmos é o suficiente para alterar nossos rumos é que fui feliz para a Festa Junina do Alê e da Ana. Não estava 100% feliz, pois não tinha achado um chapéu para complementar o visual que estava munido de bigode, barbicha e costeleta (naturais), camisa xadrez e calça rasgada. Passo para buscar meu amigo Pajé para e enfim irmos à festa. Como um milagre ele chega com o meu chapéu.

Um brinde sô!

22.6.07

Quem tudo quer ...




Bom Conselho
(Chico Buarque)

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade


Licença, Chico. Posso incluir 'quem tudo quer vai além'?

E o seu?

Venho por meio deste (post) responder a pergunta do dia da moça de moleza que pede colo para o moço.

- Diz ... quanto custa o seu sorriso?

E algumas respostas surgiram:

- Pague pra ver!
- Não custa nada e custa muito.
- Moça, não está à venda.
- Sorriso não tem preço
- Se eu falar você vai pagar?
- Mas que pergunta... Só rindo, mesmo.
- Depende do sorriso, né? São tantas modalidades.
- Meu sorriso é de graça
- Custa só riso
- O meu sorriso custa o seu!

Esta pergunta é tão vasta, complexa e bonita. Se eu fosse o Ministro do Riso obrigaria todos estabelecimentos a colocar “Diz... quanto custa o seu sorriso?” logo abaixo da frase “Sorria você está sendo filmado”.

19.6.07

Como

Eu já sabia que isto logo aconteceria e você talvez ache que é precipitado. Mas chegou a hora de contar. Não é nada além do que um simples segredo ou uma maneira de gastar aquela linha branca dando e desatando nós.

Aonde você quer chegar com isto? Mas que público mais cheio de pressa. Prefere a curiosidade entalada a sentar-se de maneira confortável na cadeira e aguardar. Eu concordo que poderia haver melhores razões para isto. Que fique só entre nós.

Desde quando é fácil contar segredos – desde que não seja o dos outros. Uma boa dica sobre este meu é que muita gente já viu por aí. Passou por algumas das mais simples redações e até mesmo prova de processo seletivo. Estava lá e está aqui também. Não é bom usar este recurso precioso a todo o momento, mas de vez em quando é preciso. E quem nunca fez isto ao menos uma vez na vida? Falo de nós.

Agora que os nós completaram as linhas não há mais segredo entre nós.


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Está exemplificado no texto acima. A melhor coisa a se fazer quando é preciso falar ou escrever é isso. Falar sobre o próprio assunto. Ou melhor, comentar a falta dele. O apelo para este recurso não é dos mais admiráveis, mas nesta escassez de dribles em que vivemos é válido, claro.

Hoje, na busca para encontrar uma razão para falar do falar e do escrever do escrever, percebi uma coisa interessante nessa enrolação – talvez sem o tom pejorativo que a palavra enrolação carregue. Eu tenho um apreço incomensurável pelo "como". Muito maior do que pelo “porque”, “quem”, “quando”, “onde” ou pelo “que”. Tem razão quem disser que sem “porque”, “quem”, “quando”, “onde” ou ou “que” não tem o “como”. E o meu projeto de teoria pode cair por terra e perder o sentido.

Como nasceu esta idéia de ter esta idéia? E como outra idéia evolui de um ponto até o outro? Os processos, as transformações ganham para mim um peso e uma relevância superior ao que se viu na partida ou na chegada. E sem perceber logo quando começo... acabo num ‘como’ profundo sem saber como.

13.6.07

Paredes, anteparos, horizontes

Uma questão de olhar. Olhar para dentro, para fora, ao longe, o olhar dos outros. Tudo está no olhar. Na vida das cidades cada vez mais urbanas, a verticalização surge diante de nossos olhos. Cria problemas climáticos e faz o horizonte difícil. Quantos metros livres há em nossa frente? Sem uma parede. Sem um prédio. Sem uma tela. Sem um obstáculo físico.

Tão nocivos quanto os obstáculos físicos são os não físicos, meu amigo. Aquela vontade de agradar à tudo e à todos. Há um mundo de possibilidades e é impossível agarrar todas de uma vez. E o pior é quando acreditamos piamente que basta dar atenção a todas as alternativas que o resultado será a paz. Ai que nos enganamos. Aquele sentimento reprimido, a pressão de ter que agir, o medo e a obediência ficam invisíveis no turbilhão do cotidiano. Com o corpo atado nem o melhor e mais forte corredor sairá do lugar.

Mas esses obstáculos são invisíveis, ou imperceptíveis quando nossa essência, aquilo que realmente somos não vem à tona. E é por isso que precisamos desvendá-los. Saber os quais, quem, porquês e comos do que nos diz respeito. Se percebidos, o melhor remédio talvez seja a demolição apenas para desobstruir a passagem. Ou então aprende-se como desviar. Mas desviar o olhar nem sempre é a solução. É vital ter o olhar livre quando for visualizar o seu horizonte.

(...Por onde vou guiar
O olhar que não enxerga mais
Dá-me luz, ó Deus do tempo
Dá-me luz, ó Deus do tempo
Nesse momento menor
Pr'eu saber seu redor
A gente quer ver
O Horizonte distante...)


Com os entraves pela frente o horizonte fica nebuloso e não há espaço para elaborar planos. E planejar é traçar as metas, estratégias, agir e chegar ou não ao um resultado final, que nem sempre é o mais importante. Todo cuidado é pouco porque no planejamento desenfreado sem ação ‘o horizonte perde o infinito’ e nascem outros obstáculos: decepção, frustração. Trazer o horizonte para perto, para a realização, é tão saudável como o perigo de planejar o inviável – não estou falando dos sonhos.

Muitas vezes os obstáculos estão ali mesmo, dados na nossa realidade. Brutos demais para o ser quando fragilizado ter forças para derrubar. E tão importante como desobstruir é criar anteparos. Não é egoísmo pensar na própria proteção e ter atitude de afastar os raios que nos atingem e fazem o olhar se perder do foco principal, que é nossa essência, planos e horizonte. E como é prazeroso observar que criamos resistência e que o que incomodava não atinge mais, bate e volta. O olhar agora é para dentro.

Em alguns momentos os anteparos são provisórios. Quem nunca viu uma simples operação tapa-buraco nas ruas. Cerca-se o local a receber o serviço, que só é definitivamente liberado quando enfim for possível trafegar com segurança. Carregar tijolos, argamassa e cimento é trabalho dos mais pesados e não é para qualquer um mesmo. Identificar ‘os quereres’ então, nem se fale. Haja disposição e boa vontade para este desafio já lançado.

(...Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim....”)


Umas das poucas certezas que temos é a escolha. Com convicção é melhor ainda. Diga sim, se sim. Não, se não. Depois, se depois. Não quero, se não quero. Ser, se é. "A sorte da gente é a gente que faz". Estar sereno é estar de bem com a vida. E não há no mundo expressão maior de paz interior que um sorrido bem dado, não é? E o sorriso depende sim de muitas coisas, mas sem os músculos, a cabeça e alma tranqüilos fica impossível. E por onde ele anda? Que tal um pouco mais de respeito ao compasso descompassado do seu coração. Ah... Não se esqueça! O coração é um músculo.

Olhar atento para fora e para dentro, meu amigo. Há que se zelar do ‘o universo ao meu redor’ e do’ infinito particular’. Ouvir um passarinho e não se sentir só. Ser porta-bandeira de si.


Esquadros
Adriana Calcanhotto

eu ando pelo mundo prestando atenção
em cores que eu não sei o nome
cores de almodóvar
cores de frida kahlo, cores
passeio pelo escuro
eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
e como uma segunda pele, um calo, uma casca,
uma cápsula protetora
eu quero chegar antes
pra sinalizar o estar de cada coisa
filtrar seus graus
eu ando pelo mundo divertindo gente
chorando ao telefone
e vendo doer a fome nos meninos que têm fome

pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
eu vejo tudo enquadrado
remoto controle

eu ando pelo mundo
e os automóveis correm para quê?
as crianças correm para onde?
transito entre dois lados de um lado
eu gosto de opostos
exponho o meu modo, me mostro
eu canto pra quem?

pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
eu vejo tudo enquadrado
remoto controle

eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
minha alegria, meu cansaço?
meu amor cadê você?
eu acordei
não tem ninguém ao lado

pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
eu vejo tudo enquadrado
remoto controle

12.6.07

Contrata-se!

Se eu pudesse incluir uma profissão no ministério do trabalho... Se eu pudesse, o anúncio de emprego seria assim:

- Formado há no mínimo 3 (três) anos e com experiência na ramo de elogios
- Pós-Graduação em paciência e reconhecimento são atributos desejáveis
- Capacidade de identificar aspectos positivos na imensidão de negativos
- Saber trabalhar em equilíbrio com os defeitos e valorizar as qualidades
- Ter disponibilidade de refletir com responsabilidade sobre as atitudes tomadas
- Domínio da percepção para o que se mistura na superfície e se esconde na profundidade
- Habilidade para improvisar e se comunicar no idioma do outro
- Saber enxergar, ouvir, falar e calar...”


Este post era para ser só isso e ser compreendido. Mas ouvi uma crítica. A palavra crítica sempre vem com uma conotação negativa, ao menos para mim, e esta veio exatamente da forma com que o anúncio solicita. Uma crítica sincera, ponderada e destacando que por mais confusa que esteja a idéia ela tem algo de bom. E é só por isso que estou aqui novamente, me retratando e numa tentativa, talvez inútil, de explicar o que sai do jeito que saiu. Falar mal é muito mais fácil, comum. Elogiar dá trabalho. É preciso um esforço de pesquisa minucioso.

Quem sabe fosse a hora de colocar outras cores de volta no mundo e deixar o cinza para lá um pouco. Só para diminuir esta desvantagem. Se for posível equilibrar, claro. Não quero dizer que é preciso falar bem daquilo que é ruim, mas sim que é no exercício de achar a qualidade que se encontra o defeito e vice-versa. Dando sequência a série de obviedades - e como é importante falar o óbvio - nada é perfeito, assim como nada é imperfeito. Até porque as coisas são mutáveis...

4.6.07

Imaginando

- Hoje o dia foi complicado...
- Imagino...

Congela a cena, por favor.

Farei jus a alcunha de "crica". Eu sei que o "imagino" acima é retórico, mas... Mas o que? Então, mas ninguém imagina nada. Por mais que alguém tenha passado pelas mesmas situações não está autorizada a imaginar o que outrém passa, ou sente. Simplesmente porque a relatividade da sensação não permite. Acho que era isso...

Receita Terapêutica

- Músicas de Cantar
- Pessoas de Cantar
- Volume de Cantar
- Microfone Virtual de Cantar
- Espírito de Cantar
- Carro de Cantar
- Ruas de Cantar

Ps: Com esta receita lúdica, alguns conceitos de sua vida podem mudar. O ecletismo ganha lugar e proporcionalmente os preconceitos musicais vão perdendo o seu espaço. É fechar os ouvidos para os nossos conceitos prévios - e dos outros também - e permitir sentir o momento da música, imprimindo na canção outros significados.

Depois de seguir a receita, descobri que algumas músicas como "Alecrim, Alecrim dourado que nasceu no campo e não foi semeado" cantada na voz de uma criança sem fôlego passam a ser mais do que aquilo que se ouviria. É a mesma música que chegará da próxima vez com um valor agregado - para usar um termo do mercado.

Aos primeiros acordes da velha canção, ela reverberará diferente dentro de você. E como são infinitas as possibilidades... Pode remeter a cheiro, alguém, algo, nada, dor, paz, amor, fé, carinho, pretérito, futuro, futuro do presente ou do passado, paisagem, paisagem imaginária, coreografia séria, dança ridícula, sol, chuva, calor, frio, praia, vazio, deserto, campo, eu, tu, nós, vós, eles, junto, separado, viagem, saudade, confraternização, espírito.

Ok, você não vai gostar de todas as músicas e gêneros. E tampouco precisa, viu. O discurso é politicamente correto mesmo. Mas admito que vale a pena tentar. A surpresa é provável. E se me permitir alertar, quando ela vier diga não a repressão. Deixe vir. E mais um alerta. Depois não adianta reclamar, esconder, disfarçar. Porque virá de dentro, incosciente, sem aviso prévio. E aí vai chegar o dia em que você vai assobiando, ou 'pior', cantando um refrão. Bom, se isso não acontecer, tente novamente, pois algum passo da receita pode não ter dado certo para você.