O Natal seguia adiante. A música, os festejos e a alegria também.
Um coro de primos, tios, tias, agregados entoava os versos de João de Barro e Pixinguinha.
"Meu coração, não sei por que
Bate feliz quando te vê.."
Eis que vão ao meio do 'salão' 179 anos. Ela 87. Ele 92.
"E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo"
Os passos são lentos, cuidadosos. As vozes acompanham.
"Mas mesmo assim
Foges de mim"
Continuam. Aproximam. Dançam.
"Ah se tu soubesses como sou tão carinhosa
E o muito, muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim"
E não importa o que foi passado. Passaram juntos, sempre juntos.
"Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração"
Então se abraçam.
"E só assim então serei feliz"
Sorriem para todos.
"Bem feliz"
Encerram com um beijo delicado, sob aplausos.
E de que importa se ela já nem se lembra e esquece. Ele também já não enxerga como antes. Mas e daí? A alma de tantos anos não esqueceu o que é ser jovem. O coração...Ah, o coração só precisa de um pouco de vida por perto para enxergar, lembrar, sentir e viver um pouco mais.
Com uma dança breve e improvisada mostram com inocência que nunca é tarde, ou melhor, sempre há tempo para a idade e a convivência, juntas, pregarem uma lição àqueles mais novos e apresentarem o verdadeiro espírito de Natal. Com muito carinho.
...
"Este momento aqui não é especial só porque estamos juntos. É a celebraço do nascimento de Cristo, não importa a religião. É um momento de amor e de paz e precisou de eu ir muito longe e de muito tempo para eu poder ver que a familia é a coisa mais importante que tem na vida. E a saúde de vó e vô, que estão aqui junto com a gente é o melhor presente de Natal que todo mundo que está aqui hoje poderia receber e dar. A gente é abençoado e este é o Natal mais abençoado que a gente já teve", Patrícia traduzia em palavras o que todos presentes deixavam escapar pelo cantinho do olho.
Meu coração...