30.5.07

O milagre da vida

A Aline do escritório onde trabalho entregou a carta de licença maternidade na última semana. Ela já está barrigudona - é o oitavo mês de gravidez. A previsão é que o pimpolho apareça lá pelo final de junho. Fiquei imaginando o que é ver sair uma vida de dentro de si. Uma sensação, que por razões óbvias, jamais terei. Não estou com inveja. Mas o que será que passa pela cabeça? Pelos olhos? E o coração, então?

Aí passo por aqui. Blogo um texto ali, outro acolá. E me dano a pensar... E a pergunta que me persegue talvez seja aquela que a Aline se fará daqui uns dias: - Como saiu de dentro de mim? E aí vejo que saem coisas que ficaram anos sendo gestadas e de repente... Puft! E sai... Não serei ingênuo. É fato que tem muita coisa prematura saindo por ai. Mas nada que uma boa incubadora não resolva esta maturação. Ah... às vezes até dói.

Outras vezes parece que algumas coisas só servem para serem gestadas. Parir jamais! E antes que me questionem... Aqui a Lei do Aborto é permitada, sim senhor. Quem é que carregou o tempo todo? Sorriu, sofreu, esqueceu, dormiu, alimentou, desenvolveu, reprimiu, expressou. E tem chute também! E quando tentam ouvir alguma coisa? Ou ainda acordam abruptamente? Uma aflição!

E são nesses pequenos partos que vamos nascendo para nós e para o mundo. E eu, que nunca vou ver um filho sair de mim, me pego com um olhar carregado de zelo, orgulho. Confesso que às vezes não sai como a gente imaginou. Mas é meu. E então continuo cuidando e protegendo o que não tem explicação. Bem maternal, mesmo.

É o milagre da vida!


"... Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão..."
(Cio da Terra - Chico Buarque e Milton Nascimento)

"... E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão..."
(Sonho Impossível - Chico Buarque)