15.8.07
Silêncios
Como explicar o silêncio? Quando é silêncio? É sempre ausência de som? Existe silêncio absoluto?
Eu, por exemplo, gosto de descasar em paz no meio do mato. O grito do grilo, o zunzum do pernilongo, o sapo sapeando e todos os outros insetos e bichos em uma sinfonia harmônica são sinônimo de silêncio para os meus sentidos.
E quem nunca teve um professor que no meio da mais alta algazarra – daquelas que quando um dos próprios elementos se ausenta do barulho, apenas observa o ruído e não é capaz de entender absolutamente nada - quebrava a situação com um ‘brado retumbante’. É a vez do silêncio que surge nos milésimos de segundos anteriores ao grito.
Tenho inveja de alguns seres dotados de uma capacidade de abstração incomum. Estes são capazes de produzir o que eu chamo aqui de silêncio mental. Cria-se uma barreira independentemente de quantos decibéis lutem para invadir este espaço.
E há também músicas que nos silenciam por dentro, outras que nos calam por fora. Por falar em música, Caetano Veloso diz que melhor que o silêncio é ouvir o mestre da Bossa Nova, João Gilberto.
O silêncio também se faz presente na linha tênue que liga á coragem ao medo. Aquela ausência de som gerador de expectativa de quem será o primeiro a vencê-la. Em alguns, causa o efeito e o impulso de ser o corajoso. Mas a mesma situação provoca em outros a motivação de instaurar o silêncio eterno.
Agora ouçam vocês. O silêncio, ele mesmo, pode ser também falador.
6.8.07
Paciente
Ser paciente é correr ao médico na pressa de deixar de sê-lo. Qualquer doença tende a ser agravada quando se adia o diagnóstico e o tratamento. Sem saber o que de fato se tem é um desafio conseguir realizar o procedimento adequado. Os resultados dos exames levam é claro algum tempo para sair. É aquele período da ansiedade, de caminhar sem chão e de criar expectativa para a cura ou até mesmo para o fim. Depois de muito estudo sobre o exame o médico chega ao veredicto.
O paciente com alívio, suspira e diz:
- Prefiro a certeza da dor a ficar com a angústia da indefinição.
E a partir daquele dia, o ex-paciente continuou apressado e consciente de qual era o caminho para a cura.
O paciente com alívio, suspira e diz:
- Prefiro a certeza da dor a ficar com a angústia da indefinição.
E a partir daquele dia, o ex-paciente continuou apressado e consciente de qual era o caminho para a cura.
4.8.07
Jorge também é da banda
A melhor banda ‘cover’ dos Beatles do mundo é Argentina. O grupo esteve no Brasil há duas semanas em turnê comemorativa aos 40 anos de um dos mais verdadeiros álbuns dos Beatles, o Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band.
A casa estava repleta de nostalgia e também de curiosidade. Afinal e contas era a tal melhor banda beatle do mundo. O show teve momentos fantásticos, de fato. Mas o que chamou minha atenção foi Jorge. Um senhor apimentado. Era muita alegria para uma mesma pessoa. Pura euforia. A minha impressão, Jorge que me desculpe, é de que ele queria reviver o impossível. Projetar o passado no presente.
Era tanta alegria naqueles olhos que não me contive e fui falar com o homem embriagado de Beatles. A conversa foi breve, pois não queria atrapalhar de forma alguma o momento que era só dele. E naquela multidão, o momento era mesmo só dele. Jorge estava em alfa. “É a história de uma vida”, resumiu. Fã incondicional, foi presenteado pela filha com ingresso para ver os Beatles. Era possível perceber que havia John, Paul, Ringo e George, o pelo menos para o Jorge, com jota.
Empolgado ele me contava: “a cada música é um beijo numa menina quando eu tinha 17 anos”. Insisti em mais uma pergunta. E ele revelou qual era sua maior alegria: ter apostado numa banda que seria uma das mais ouvidas do mundo e que até os dias de hoje fazem sucesso.
Jorge destoava da audiência. Era barulho, silêncio, distorção, alucinação e contradição. Passado passando à frente. Rock com Tango. Jorge fazia mesmo parte da banda do Sargento Pimenta.
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