30.1.08

Guarda-chuva


Dia chuvoso desanima. Principalmente para pessoas como eu, que por principio não utilizam o guarda-chuva. Considero uma tecnologia pessimista e sem espaço nas calçadas estreitas da cidade de São Paulo.

Os adeptos do guarda-chuva precisam entender que o objeto é grande. E que não é porque estão protegidos da chuva, que não precisam olhar para frente. Na minha modesta opinião, o cidadão guarda-chuvado tem o dever de desviar dos outros, e não o contrário.

A situação piora quando há encontros de transeuntes guarda-chuvado nas duas mãos da calçada. Nenhum dos dois sabe o real tamanho da unidade (pessoa + objeto), mas invariavelmente julgam menor do que é. Trombam. A má conservação do guarda-chuva também oferece perigo. Aqueles ‘braços’ metálicos escapam e podem ferir os inocentes. Sugestão: neste caso o pedestre sem guarda-chuva deve optar por andar na própria rua para evitar maiores acidentes.

Tudo isso quando a chuva cai de forma vertical. Mas há o vento e com ele uma chuva quase vertical. É claro que os guarda-chuvas acompanham esta angulação. Visualizem a massa caminhando com o guarda-chuva em forma de escudo.

Ainda sobre a questão do tamanho do guarda-chuva há outro importante comentário. Quando chove, as árvores – pasmem - ficam molhadas. Os cidadãos guarda-chuvados ignoram o fato de haver cidadãos não guarda-chuvados e num gesto de covardia permitem que o tal objeto atinja as copas das árvores. O resultado é uma precipitação ainda mais densa sobre os pedestres normais.

Depois de utilizado, o que é feito do guarda-chuva? As pessoas carregam o objeto até a porta do estabelecimento e aí? As portas viram um depósito de guarda-chuva molhado. A água escorre e inevitavelmente uma poça se forma na entrada dos lugares. E convenhamos, esteticamente não é bacana. E tem guarda-chuva, amarelo, verde limão, florido, xadrez, preto, branco, de bolinha e por aí vai. .Quem sabe o sr. Kassab não inclui um artigo sobre a questão dos guarda-chuvas na Lei Cidade Limpa.

Adoro quando de tão poderoso o vento faz a minha vingança e faz a parte de cima do guarda-chuva ficar invertida. Ainda mais interessante é briga para reverter a situação. Se objeto escapar e ganhar liberdade, então.

Talvez a chuva seja para ser sentida e não guardada, mas hoje eu confesso que só queria ter uma mísera capa de chuva...

15.1.08

Ladeira São José, nº 12

O Natal seguia adiante. A música, os festejos e a alegria também.

Um coro de primos, tios, tias, agregados entoava os versos de João de Barro e Pixinguinha.

"Meu coração, não sei por que
Bate feliz quando te vê.."

Eis que vão ao meio do 'salão' 179 anos. Ela 87. Ele 92.

"E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo"

Os passos são lentos, cuidadosos. As vozes acompanham.

"Mas mesmo assim
Foges de mim"

Continuam. Aproximam. Dançam.

"Ah se tu soubesses como sou tão carinhosa
E o muito, muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim"

E não importa o que foi passado. Passaram juntos, sempre juntos.

"Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração"

Então se abraçam.

"E só assim então serei feliz"

Sorriem para todos.

"Bem feliz"

Encerram com um beijo delicado, sob aplausos.

E de que importa se ela já nem se lembra e esquece. Ele também já não enxerga como antes. Mas e daí? A alma de tantos anos não esqueceu o que é ser jovem. O coração...Ah, o coração só precisa de um pouco de vida por perto para enxergar, lembrar, sentir e viver um pouco mais.

Com uma dança breve e improvisada mostram com inocência que nunca é tarde, ou melhor, sempre há tempo para a idade e a convivência, juntas, pregarem uma lição àqueles mais novos e apresentarem o verdadeiro espírito de Natal. Com muito carinho.
...

"Este momento aqui não é especial só porque estamos juntos. É a celebraço do nascimento de Cristo, não importa a religião. É um momento de amor e de paz e precisou de eu ir muito longe e de muito tempo para eu poder ver que a familia é a coisa mais importante que tem na vida. E a saúde de vó e vô, que estão aqui junto com a gente é o melhor presente de Natal que todo mundo que está aqui hoje poderia receber e dar. A gente é abençoado e este é o Natal mais abençoado que a gente já teve", Patrícia traduzia em palavras o que todos presentes deixavam escapar pelo cantinho do olho.

Meu coração...